Cadeira de balanço

Sento-me nesta cadeira de balanço.
Para frente, para trás...
O atrito dela com o chão não me permite deslocar, andar, mudar de lugar...
Estagnada estou.O mundo balança.
Tontura...vertigem...não sinto meu corpo balançar; mente oca, preocupada a girar..girar...
Meu problema não é sentir o mal estar do desequilíbrio, mas sim, perceber que não sinto, não me sinto, sinto nada...o nada.
Morri?
O coração ainda bate, mesmo após mudar a palpitação.
E, por falar nisso, palpitam restos de amor, sombras difusas de paixão, imagens claras de afeto.
Medo .Sentimentos, momentos , batem menos, menos intensos...
Mudei?
Visão desnivelada , amadurecimento ironicamente tardio , respostas confusas .
A paixão perde-se neste oceano de perguntas .
É um crime permitir o fim de um grande amor.
Para isso existem as penitenciárias do coração.És criminoso também?
Destino : ser preso em sua própria cela.Sua grade :amores próprios ou impróprios.Pena: encarar o passado, conviver com o presente e não planejar o futuro.
Difícil perambular por entre as vias imaginárias do ego.
Difícil encontrar a porta e o alçapão.
O amanhã inesperado dói mais que a cabeça confusa.
Qual remédio ?
A balançar estou.
Para frente e para trás,
frente
trás.

(Anna Gonçalves - 1991)